Em sua coluna de 20/2/05, o editor-público do New York Times, Daniel Okrent, comenta que centenas de pessoas já se queixaram com ele de que o diário os representou de forma incorreta e prejudicial, e perguntaram o que poderiam fazer para terem sua visão da história publicada. ‘A resposta pertinente – aquela que o pessoal dos jornais usa desde Gutenberg – é ‘escreva uma carta ao editor’. Mas a continuação implícita, na maioria dos casos, é: ‘apesar de praticamente não haver chance de que a publiquem’’, escreve o ombudsman.
Seria impossível publicar todas as cartas que o Times recebe. Chegam ao departamento responsável mil mensagens ao dia e apenas quinze são reproduzidas no diário. Ainda assim, muitos daqueles que tiveram sua carta publicada reclamam que tiveram de aceitar alterações impostas pelos editores, geralmente tirando acusações que põem em dúvida a boa fé do jornal ou de seus repórteres. Esta prática também é comum em seções de cartas de cadernos dominicais. O editor de cartas Thomas Feyer observa que reluta em aceitar este tipo de missiva porque ‘imputa aos repórteres ou ao Times motivações que o remetente não tem como saber’.
Okrent escreve que entende que ataques específicos a certos jornalistas não devem ser reproduzidos a priori, já que o texto que assinam é produto do trabalho dos editores e dos redatores de títulos. Também concorda que humilhar publicamente um repórter não leva a nada. No entanto, o ombudsman acredita que o diário deveria permitir que os leitores criticassem e questionassem as motivações da instituição The New York Times. ‘O jornal é forte o suficiente para suportar isso’. A solução proposta por Okrent é fazer com que todas as matérias do arquivo eletrônico disponível na internet estejam acompanhadas pelos comentários dos leitores, editados apenas num nível que evite que o espaço se torne uma terra sem lei de ofensas e difamação. Também apareceriam ali as cartas que os repórteres escrevem individualmente para os leitores que os questionam, já que suas respostas podem ser de interesse para mais gente.
Este processo exigiria muito trabalho e, de fato, é difícil de pôr em prática. Contudo, para Okrent, seria muito benéfico para o Times, que poderia se fortalecer com as críticas. ‘Para mim, a página de opinião faz seu melhor quando está totalmente contrária às posições editoriais do jornal. O mesmo pode acontecer com críticas civilizadas e informadas das práticas do jornalismo: o forte pode suportá-las e mostrar sua força absorvendo-as’.