Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um termo e muitas interpretações

Em sua coluna de domingo [20/4/08], a ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, avaliou a cobertura sobre Israel e Oriente Médio, reproduzindo um trecho de uma matéria escrita por Scott Wilson, em dezembro do ano passado, quando ele era chefe da sucursal do diário em Jerusalém – hoje, Wilson é editor de matérias internacionais. No parágrafo escolhido pela ombudsman, o jornalista diz que os ‘árabes são excluídos do serviço militar obrigatório’. A palavra ‘excluídos’ incomodou à leitora Wendy Leibowitz, que pediu uma correção. O termo, porém, não gerou, na época, comentários por parte do Exército de Israel nem da Embaixada de Israel e tampouco do Committee for Accuracy in Middle East Reporting in America (Camera, sigla em inglês), organização que monitora a cobertura sobre o Oriente Médio nos EUA.

No dia 10/4, no entanto, o Camera comprou um espaço publicitário no jornal conservador Washington Times no qual criticava o Post, alegando que os árabes não eram excluídos do IDF (Exército israelense). Para entender o que ocorreu, Deborah entrou em contato com o IDF e com a Embaixada de Israel, que concordaram que a afirmação era de fato imprecisa e distorcida. David Siegel, porta-voz da embaixada, afirmou que o serviço militar em Israel é obrigatório para judeus, para a comunidade drusa (grupo leal a Israel, que fala árabe) e para os muçulmanos circassianos, que não são árabes. ‘Cristãos e árabes muçulmanos, incluindo os beduínos, são dispensados do serviço obrigatório no Exército israelense’, esclareceu.

A verdade em números

O IDF tem mais de 170 mil membros ativos, em serviço, segundo o Intituto Internacional para estudos Estratégicos, com sede em Londres. Destes, cerca de cinco mil são formados por minorias – 70% de drusos, 22% de árabes beduínos, 8% de cristãos, árabes muçulmanos e circassianos.

Após consultas com especialistas no tema, Deborah conseguiu obter maior contextualização sobre a afirmação de Siegel. A preocupação com a segurança é o principal motivo para não se recrutar árabes. Isto não significa, no entanto, que eles não queiram servir ao Exército. Segundo, Hassan Jabareen, diretor-executivo do Adalah, centro para direitos de minorias árabes em Israel, há ‘um acordo silencioso’. Ele conta que ‘existem árabes que serviram ao Exército, muçulmanos e cristãos, mas este número é muito limitado’. Ian Lustick, cientista político da Universidade da Pensilvânia, concorda. ‘É muito difícil um árabe muçulmano entrar no Exército, mas não é impossível. Ao contrário dos cristãos e dos beduínos, os árabes muçulmanos são desencorajados a entrar no Exército como voluntários. Se eles fossem incentivados, seriam a ‘maior minoria’ no IDF’, opina. Para o professor Shibley Telhami, da Universidade de Maryland, os árabes não querem servir porque, em muitos casos, teriam que lutar contra outros árabes. ‘O Exército também nunca confiou plenamente neles’, diz Telhami, que é árabe israelense.

A palavra ‘excluídos’ não agradou a Siegel porque, para ele, significa ‘eu quero servir e não posso’. ‘Qualquer um pode ser voluntário’, reforça. Wilson acredita que, ainda assim, fez bom uso do termo. ‘Não é apenas incomum encontrar árabes no IDF – é raro. Além de alguns soldados drusos, que em Israel em geral não se consideram árabes, e poucos beduínos, que trabalham como espiões, não encontrei um único árabe com uniforme do IDF. E passei muito tempo com soldados israelenses. Como classe, os cidadãos árabes são excluídos do Exército’, defende.