Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Unanimidade digna de explicação

No dia 14/3/05, The Washington Post publicou matéria de Peter Slevin sobre um crescente movimento contra o ensino da teoria da evolução nas escolas dos EUA. Segundo o ombudsman do Washington Post [20/3/05], Michael Getler, tratava-se de um extenso e revelador artigo sobre como grupos conservadores vinham reforçando suas estratégias para conseguir mudar a forma como se ensina a origem da vida aos jovens americanos. Em 19 estados do país já existem projetos de lei neste sentido.

O texto dava uma boa dimensão de como anda a articulação desses conservadores, mas deixava de citar cientistas, assumindo que todos os leitores têm claro que a teoria da evolução é algo unânime no meio acadêmico. ‘Não há nenhuma controvérsia científica, mas lemos depoimentos de várias autoridades eleitas dizendo que existe’, queixa-se um leitor. ‘A teoria da evolução é aceita como a origem da vida por todos os biólogos profissionais do mundo. Sugerir que há dúvida sobre sua correção é equivalente a duvidar que a Terra gira em torno do Sol’, indignou-se outro.

Até um repórter da editoria de ciência escreveu aos colegas da redação, apoiado pelo seu editor, reclamando: ‘Como é que o Washington Post pôde publicar uma matéria na página A1 sobre a discussão em torno dos fatos da evolução sem dedicar um simples parágrafo a quais são as evidências para a visão científica da evolução? Fazemos um grave desserviço aos nossos leitores ao não falar disso’.

Slevin e seus editores respondem que a teoria da evolução é algo aceito pela maioria dos leitores e que seu objetivo era mostrar ‘as atividades dinâmicas dos grupos que estão do outro lado’. Getler aceita o argumento, mas se coloca junto com aqueles que reclamaram da reportagem. ‘Tenho a impressão de que alguns parágrafos extras teriam dissipado as críticas científicas e ideológicas, e teriam tornado o texto mais absorvível jornalisticamente’.