Friday, 29 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Veja

INTERNET
Carlos Rydlewski

A VIDA A 100 Mbps

‘Uma maravilha tecnológica ansiosamente aguardada está à disposição dos brasileiros desde o início deste ano: as conexões residenciais de superbanda larga. Dá-se esse nome a velocidades de download acima de 30 megabits por segundo (Mbps). Agora, a mais poderosa banda larga residencial oferecida no país é de 100 Mbps. Isso significa baixar um arquivo 100 vezes mais rápido do que com a conexão mais comum no Brasil, que é de 1 Mbps. A comparação é ainda mais massacrante se for feita com uma antiga conexão discada, daquelas com modem de 56 Kbps – a superbanda é simplesmente 2 000 vezes mais veloz. Dez milhões de brasileiros dispõem de banda larga. No mundo todo, são 325 milhões de assinaturas, número que triplicou desde 2003.

Por enquanto, a oferta dos 100 Mbps é restrita – e custa caro. Mas, como tudo no mundo digital, a tendência dos preços é derreter. A Oi cobra 990,90 reais mensais por esse tipo de serviço, em cinco capitais (Brasília, Curitiba, Goiânia, Porto Alegre e Florianópolis). A Telefônica lançará serviço semelhante neste ano em São Paulo. A NET está realizando testes em alguns bairros paulistanos e cariocas com redes de 60 Mbps, mas que podem atingir 300 Mbps. A operadora GVT, que atua mais fortemente no Sul do país, também estuda entrar nesse mercado. ‘Todas as empresas estão tateando para entender como as pessoas usam essa superbanda larga em casa e decidir qual o melhor momento para investir maciçamente nesse serviço’, diz Cícero Olivieri, vice-presidente de Engenharia da GVT.

Uma vantagem imediata dos 100 Mbps é permitir o acesso a filmes em alta definição na internet. Imagens em movimento são fardos pesadíssimos de bits e não funcionam bem com a banda larga de pequena capacidade. O YouTube, site especializado em vídeos, usa sozinho mais banda que a web inteira utilizava em 2000. É por isso que a velocidade das novas conexões faz diferença na casa dos brasileiros. Para especialistas, com os 100 Mbps de velocidade, teremos a fusão de duas telas: a da internet e a da TV. A superbanda facilita também a disseminação de videoconferências em alta definição, jogos on-line, além da oferta de serviços de educação e medicina a distância.

A atual rapidez das conexões está associada a aprimoramentos tecnológicos (softwares e infraestrutura) das redes de fio de cobre (empresas de telefonia) e de cabos (TVs pagas). Mas é a fibra óptica, criada no início dos anos 50, o meio mais eficaz de conduzir dados. Levada à casa dos consumidores, permite velocidade de 600 Mbps, sem perdas no trajeto – o que não ocorre com o cabo e o cobre. Mas 100 Mbps é muito? É bastante para conexões residenciais, mas insuficiente para que grandes arquivos sejam manipulados na web com a mesma destreza com que uma pessoa folheia um livro real. É por isso que ninguém duvida que ainda é necessário pisar muito mais fundo no velocímetro da ilustração acima.’

 

 

 

UPDIKE
Jerônimo Teixeira

O grande retratista da vida miúda

‘‘Eu gosto do meio. É no meio que os extremos colidem e a ambiguidade governa implacavelmente’, disse John Updike certa vez à revista Life. Por ‘meio’, entenda-se a classe média americana, cujas ambições e frustrações ele dissecou na série de quatro romances protagonizados por Harry Angstrom, vendedor de carros apelidado de ‘Coelho’ – Coelho Corre (1960), Coelho em Crise (1971), Coelho Cresce (1981) e Coelho Cai (1990). O exame ao mesmo tempo irônico e compassivo da confortável mediocridade dos subúrbios e pequenas cidades americanas foi a marca fundamental da obra de Updike, que morreu na terça-feira, dia 27, em Danvers, Massachusetts, de câncer pulmonar, aos 76 anos. Sua contribuição à literatura dos Estados Unidos, porém, não se esgota aí. Updike foi um dos escritores mais prolíficos de sua geração: escreveu críticas, ensaios, poesia, contos e memórias, publicando mais de sessenta livros. ‘Ele foi o maior homem de letras do nosso tempo’, declarou seu colega Philip Roth.

Nascido em Reading, pequena cidade da Pensilvânia, na juventude Updike pensou em ser cartunista. Ainda desenhava quando entrou na Universidade Harvard. A definitiva conversão à literatura se deu em 1954, quando publicou seu primeiro poema na revista The New Yorker, dando início a uma série de colaborações que se estenderia pela vida toda. Nas resenhas publicadas na New Yorker e em outros jornais e revistas, Updike exibia uma refinada sensibilidade crítica. Minucioso na análise do livro resenhado, e sempre elegante na sua prosa, era um crítico respeitado, não temido. Seus ensaios, recolhidos em livros como Bem Perto da Costa, não se limitavam apenas à literatura: escrevia sobre beisebol, golfe, cinema, cultura pop – e até sobre suas aflições pessoais de saúde, como a gagueira e a psoríase. Tentou imprimir a mesma versatilidade de temas à sua ficção, com menor sucesso. Seus melhores romances são aqueles que se mantêm na vizinhança da classe média americana, como a série ‘Coelho’ e Casais Trocados, livro que causou certo frisson em 1968, pelo tratamento desassombrado do sexo e do adultério (Updike figurou então na capa da revista Time, sob o título ‘A sociedade adúltera’). Quando se afastava desse terreno familiar, Updike era menos feliz. Sua tentativa de entender a mentalidade de um fundamentalista muçulmano em Terrorista, de 2006, não foi muito convincente. Brazil, de 1994, resultado de uma visita que o escritor fez ao país, é um esforço canhestro de transportar o mito de Tristão e Isolda para uma favela.

Updike não cultivava a polêmica, como seu turbulento companheiro de geração Norman Mailer. Mas envolveu-se em algumas querelas próprias de seu tempo. Remando contra a corrente dominante da intelectualidade americana dos anos 60, deu apoio – parcial, tímido – à Guerra do Vietnã. Também foi muito atacado pelas patrulhas feministas, que consideravam machista sua abordagem das personagens mulheres – As Bruxas de Eastwick, romance que foi adaptado para o cinema com Jack Nicholson e Michelle Pfeiffer, pode ser lido com uma espécie de sátira à emancipação feminina. No campinho mais restrito da crítica, o lugar de Updike na moderna literatura americana também tem sido matéria de debate. Com frases sonoras e imagens precisas, ele é reconhecidamente um estilista da língua inglesa – mas críticos como James Wood e Harold Bloom já sugeriram que o estilo mascara a falta do que dizer (Updike seria um ‘pequeno escritor com um grande estilo’, segundo Bloom). De fato, Updike talvez não esteja na categoria de Saul Bellow ou Philip Roth, que foram mais fundo nos recessos obscuros da alma americana. Mas o medíocre Harry ‘Coelho’ Angstrom é um tipo memorável – um retrato vigoroso da enorme angústia que às vezes acompanha as vidas miúdas.’

 

 

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