Foi um festival de barrigadas que pegou toda a imprensa no contrapé. Dos noticiários das TVs, começando pelo “Jornal Nacional”, aos jornais diários e sites, não faltou quem reproduzisse a notícia de que o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, havia determinado a abertura de inquérito contra os ministros petistas Edinho Silva (Comunicação Social) e Aloizio Mercadante (Casa Civil) e o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira.
O trio foi citado no depoimento do delator Ricardo Pessoa, dono da UTC, entre os vários políticos cujas campanhas teriam recebido financiamentos da empreiteira.
A história começou como um furo do “Jornal Nacional” de sábado (5), foi manchete de domingo (6) em “O Estado de S. Paulo” e de segunda-feira (7) na Folha. Foi comentada em coluna e ganhou mais de meia página em “O Globo”. O engano só começou a vir à tona na terça-feira.
O fato: a abertura de inquérito valia apenas para Edinho Silva, que foi tesoureiro da campanha da reeleição de Dilma Rousseff. A Procuradoria-Geral da República entendeu que os casos de Mercadante e Aloysio não estão ligados à Lava Jato e sugeriu que fossem redistribuídos para outro ministro do STF. Por sorteio, caíram nas mãos do decano Celso de Mello, a quem caberá decidir sobre a abertura de investigações para apurar possível crime eleitoral.
Um erro coletivo como esse só evidencia como os controles de apuração são frágeis. É fácil entender a replicação de conteúdo errado em redes sociais, onde bastam o descompromisso e um clique para passar a história à frente. Nos veículos noticiosos, o primeiro mandamento é tentar confirmar a informação com mais de uma fonte antes de publicá-la. Se isso não for possível, a notícia será reproduzida e atribuída a quem a divulgou. O lado bizarro desse caso é que todos os veículos fizeram confirmações próprias –e todas estavam erradas.
Parte do desastre se deve ao clássico apagão dos feriados, quando as Redações trabalham com metade da equipe, e as fontes praticamente desaparecem. Nesse meio a meio, não é difícil que repórteres de jornais diversos tenham ouvido as mesmas fontes mal informadas. Também não se pode ignorar que a pressão para confirmar ou desmentir o furo de concorrentes pode resultar em apurações apressadas –pressa que vale para a publicação, mas não para a admissão do erro.
A Redação reconhece que os sinais de que o informe estava errado já haviam sido claramente emitidos pelo gabinete do ministro Teori na terça. O “Jornal Nacional” e o G1 publicaram suas erratas nesse mesmo dia. Na Folha, a correção saiu no digital na quarta e no impresso na quinta. Na sexta (11), o jornal publicou uma reportagem grande explicitando sem disfarce a gravidade do erro e deu chamada na capa.
“Não há nenhuma justificativa plausível para a demora. Houve cochilo generalizado na Redação, inclusive desta secretaria”, declarou Vinicius Mota, secretário responsável pela edição do jornal.
Até a noite de sexta, não havia correção clara nos outros jornais, que deslizaram mansamente da informação errada para a certa ignorando o tropeço no caminho. Para o leitor desavisado, o problema chegou a passar despercebido.
Apagões à parte, suspeito que o uso excessivo de fontes não identificadas seja um fator mais determinante desses erros de informação. O recurso do “off” deveria ser exceção, mas tem sido adotado de forma indiscriminada, principalmente após a eclosão da Lava Jato, um tema explosivo e de altíssimo interesse, cuja obrigatoriedade legal de sigilo só atiçou o vale-tudo.
O anonimato alimenta o descompromisso da fonte com a veracidade da informação, facilita a publicação de notícia mal-ajambrada por falta de contraditório e propicia a plantação de boatos ou versões que atendem unicamente a interesses individuais ou de grupos. Deveria ser usado com moderação.