O ombudsman do Washington Post, Michael Getler, reserva sua coluna de 2/5/04 para comentar sua impressão pessoal sobre o livro Plan of Attack, best-seller sobre a guerra no Iraque escrito pelo veterano Bob Woodward, que cobre o governo para o diário. Na coluna anterior, Getler havia dado espaço para que o editor-executivo do Post, Leonard Downie Jr, rebatesse críticas de leitores. Alguns achavam, por exemplo, que o jornal estaria publicando partes da obra porque teria participação no lucro das vendas. Outros criticavam o fato de o jornal não ter noticiado antes revelações que o autor faz no livro.
Getler escreve que, em sua opinião, a imprensa precisa de mais jornalistas como Woodward e Carl Bernstein (colegas que conseguiram trazer à tona boa parte do escândalo de Watergate, que derrubou o presidente Richard Nixon nos anos 70). Eles gastavam sola de sapato em suas reportagens e tinham o apoio dos editores, que também se envolviam na investigação. Os EUA estão em uma guerra em que tudo que o governo usou como argumento para iniciá-la se mostrou falso ou, na melhor das hipóteses, mal avaliado (a existência de bombas de destruição em massa no Iraque, a ligação entre Saddam Hussein e a al-Qaeda, a boa recepção que os americanos teriam por parte do povo iraquiano etc).
A imprensa tem se esforçado, mas parece que não tem acertado a mão para encontrar respostas às inúmeras dúvidas da opinião pública. Para piorar, parece que não há muitos funcionários do governo dispostos a se arriscar passando informações aos jornalistas, mesmo que anonimamente, como houve na época do caso Watergate.
Dentro desse contexto, o trabalho de Woodward, que entrevistou mais de 75 funcionários do governo Bush – inclusive o próprio presidente – é muito importante. Contudo, ele escreve em forma de narrativa e não identifica muitas de suas fontes, o que é aceitável num livro, mas pode parecer estranho ao leitor de jornal, que está acostumado a saber detalhes sobre os personagens que expõem fatos ou opiniões nas reportagens. Neste sentido, muitas das críticas ao Post com relação à publicação do texto de Woodward são legítimas.