Se Rupert Murdoch ainda tem disposição para ler jornais e quer inteirar-se do que está acontecendo neste momento conviria que mergulhasse na tenebrosa cobertura do massacre de Oslo perpetrado pelo extremista de direita Anders Behring Breivik.
Se Murdoch não se comover com esta tragédia é porque a cloaca jornalística em que andou metido nas últimas décadas intoxicou-o e obliterou definitivamente os seus sentidos e a sua condição humana. Se conseguir entender a doutrina ideológica defendida pelo monstro louro de olhos verdes, Murdoch – o fraudador de espelhos –será obrigado a reconhecer-se como o real inspirador da matança.
O sangrento ataque ao acampamento dos jovens social-democratas noruegueses não difere muito da perversa campanha da Fox News contra o “socialista” Barack Obama. A chacina em Tucson, Arizona, no início de janeiro deste ano, contra a deputada democrata Gabrielle Giffords, que matou seis pessoas e quase a invalidou permanentemente, foi inspirada pelo Tea Party, a mesma tropa de choque da extrema direita americana que Murdoch tanto admira, ajuda e sonha levar à Casa Branca.
O magnata da imprensa marrom precisa voltar a ler jornais sérios ainda que seja levado a concluir que ele é a alma gêmea do Dr. Joseph Goebbels, o maior fabricante de mentiras e ódios que o mundo já conheceu.
Distantes e iguais
Anders Breivik aparentemente agiu sozinho, mas não está sozinho: seu advogado de defesa é famoso por defender neonazistas e já começou a solerte distribuição de propaganda extremista a pretexto de defender seu cliente. A decisão de não resistir e se entregar à polícia ao invés de suicidar-se – como tem acontecido com todos os serial-killers – revela a estratégia da besta-fera para aproveitar todas as oportunidades oferecidas pelo Estado de Direito para difundir o seu fanatismo.
Murdoch deveria encomendar à sua jornalista preferida, Rebekah Brooks, uma pesquisa sobre ativista Theodore John Kaczynski, o Unabomber, condenado à prisão perpétua nos EUA; sobre o atentado em Oklahoma City, perpetrado por Timothy McVeigh, em 19 de abril de 1995; os massacres em escolas e os serial-killings das duas últimas décadas. Não será difícil concluir que a grande maioria dos bandidos estava ligada ao neonazismo, inspirada em Hitler, à sua cartilha do Mein Kampf e ao horror à presença do Estado.
Terroristas abominam o Estado, por isso são terroristas. Murdoch também tem horror ao Estado porque um Estado atento e uma sociedade consciente impediriam que acumulasse tanto poder e cometesse tantas indignidades.
O capo australiano Murdoch e o seu títere norueguês Breivik, antípodas e iguais, juntaram-se no noticiário para lembrar que a Segunda Guerra Mundial ainda não terminou.
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